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A Evolução Histórica da Comunicação: De Sinais Primordiais à Inteligência Artificial

A comunicação humana, desde seus primórdios, é intrínseca à nossa capacidade de organização social e de transmissão de conhecimento. Mais do que uma mera troca de informações, ela é o substrato que permitiu o desenvolvimento da arte, da religião e da ciência — os grandes metaconhecimentos inerentes à capacidade humana. Cada revolução tecnológica na comunicação amplificou essas esferas, redefinindo o que podemos pensar, crer e criar. Como observou Marshall McLuhan em Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem: "Os meios são extensões do homem." Essa premissa seminal sublinha como cada nova tecnologia de comunicação não apenas nos ajuda a interagir, mas também molda nossa própria percepção e existência.


Inicialmente, a imagem foi o nosso primeiro idioma universal. Das pinturas rupestres pré-históricas à iconografia das civilizações antigas, a representação visual transcendeu barreiras linguísticas e geográficas, estabelecendo os primeiros significados coletivos e as primeiras narrativas. Norval Baitello Jr., em A Era da Iconofagia, aprofunda essa primazia da imagem, descrevendo como "a imagem engole o real, e nós somos engolidos pela imagem." Essa ideia ressoa com a nossa discussão sobre como o visual se tornou um dialeto primordial. A transição para o texto, impulsionada pela escrita e, posteriormente, pela prensa de Gutenberg, revolucionou a disseminação da informação, permitindo a massificação do conhecimento e o surgimento de estruturas sociais e políticas mais complexas. Bruno Munari, em Design e Comunicação Visual, enfatiza a importância da clareza e da metodologia no processo comunicacional, afirmando que "comunicar não é o que se diz, mas o que se entende." A lógica inerente à sequência textual tornou-se a base para o pensamento crítico e o desenvolvimento científico.


Avançando para a era digital, a comunicação metamorfoseou-se novamente. O hypertexto da World Wide Web, ao quebrar as barreiras lineares do texto impresso, abriu caminho para uma explosão de interconexão. A capacidade de manipular a informação visual de formas inéditas, através de modelos matemáticos visuais como Bitmap, matrizes vetoriais e polígonos 3D, não apenas enriqueceu a experiência estética e científica, mas também permitiu a criação de mundos virtuais e interfaces cada vez mais imersivas. Essa evolução culmina nas Large Language Models (LLMs) de hoje, que representam um novo limiar na comunicação, capazes de gerar, compreender e interagir com a linguagem de maneiras que desafiam as noções tradicionais de significado e significante.

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A Tríade Complementar de Harari: Império, Tecnologia e Guerra Cultural


Nesse panorama de constante transformação, a perspectiva de Yuval Noah Harari (conforme explorado em obras como Sapiens: Uma Breve História da Humanidade e Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã) oferece uma lente crucial para entender a dinâmica da comunicação. Harari argumenta que a história da humanidade pode ser vista através da inter-relação de uma tríade complementar:


  1. O Império como Status Quo: Impérios não são apenas estruturas políticas; eles representam sistemas de crenças, narrativas e tecnologias que buscam padronizar e controlar vastas populações. A comunicação (seja ela oral, escrita, ou digital) sempre foi uma ferramenta essencial para a construção e manutenção desses impérios, moldando identidades e valores para preservar o status quo.


  2. A Tecnologia da Comunicação: Como vimos, cada avanço na comunicação (da escrita à imprensa, do rádio à internet, e agora às LLMs) não apenas potencializa a capacidade de um império de se expandir e governar, mas também, paradoxalmente, gera rupturas e novas possibilidades. Essas tecnologias são disruptivas, alterando a forma como a informação é produzida, distribuída e consumida, e com isso, os alicerces do poder.


  3. A Guerra Cultural como a Guerra: Quando as tecnologias de comunicação alteram a disseminação de ideias, elas inevitavelmente geram conflitos de narrativas. A "guerra cultural" que Harari descreve é a batalha pelos significados e pela hegemonia das histórias que moldam a percepção coletiva. No ambiente digital, essa guerra é travada com o uso estratégico da imagem, do texto e da manipulação do comportamento através de algoritmos, onde a desinformação e a polarização se tornam armas poderosas. A própria evolução das LLMs, por exemplo, levanta questões sobre quem controla as narrativas e como as realidades são construídas no ciberespaço.


A compreensão profunda dessa inter-relação entre arte, religião, ciência, as revoluções tecnológicas da comunicação (do gesto primordial às LLMs) e a tríade de Harari é o que define a perspicácia do "Sábio Digital". É a capacidade de navegar por essas complexas camadas históricas e conceituais que permite não apenas entender o passado, mas também antecipar e moldar o futuro da comunicação.

 
 
 

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